449 - Por que NÃO IMPORTA se o ESTREITO de ORMUZ vai FECHAR
Como o tema sobre o Canal de Hormuz no Irã vem criando confusão com "certezas" sobre o assunto
Toda vez que tem algum aumento de tensão no Oriente Médio, principalmente envolvendo o Irã, surge aquela mesma pergunta: e se eles fecharem o Estreito de Ormuz? A mídia dispara alertas, os mercados já reagem com medo e todo mundo começa a achar que o petróleo vai disparar e o mundo vai colapsar. Mas será que isso realmente importa tanto assim?
Neste capítulo, eu quero te mostrar por que talvez essa não seja a pergunta mais importante. E também por que, mesmo que Ormuz fosse fechado, os impactos podem ser muito diferentes do que você imagina. Vamos olhar com calma, tirar o zoom, entender o que está por trás da narrativa e como isso afeta seus investimentos.
O estreito é importante, mas não é o fim do mundo
Vamos começar pelos fatos. O Estreito de Ormuz é sim uma rota estratégica. Cerca de 20 por cento do petróleo global passa por ali. Mas isso não significa que qualquer ameaça já vai virar bloqueio total. Primeiro porque as rotas mais profundas, por onde os navios realmente grandes passam, ficam do lado de Omã. Ou seja, o Irã nem tem controle direto sobre elas.
Para fechar de verdade o estreito, o Irã teria que invadir Omã. Não é só improvável. É praticamente impossível. Além disso, o Estreito de Ormuz é largo. Muito largo. Não dá pra um país sozinho travar aquilo. E tem mais: tem uma coalizão naval ali na região com Estados Unidos, Reino Unido, França, Índia e os países do Golfo. Então não é como se o Irã tivesse liberdade total para fazer o que quiser.
E mesmo que tentasse alguma coisa, o que os especialistas dizem — como o Anas Alhajji, que é uma das vozes mais sensatas nesse tema — é que a marinha iraniana conseguiria, no máximo, atrapalhar o tráfego por algumas horas antes de ser neutralizada. Não dá pra sustentar uma operação dessas por muito tempo.
O Irã seria o maior prejudicado
Esse é o ponto central. Fechar o Estreito de Ormuz não é só complicado do ponto de vista militar. É autodestrutivo. O próprio Irã depende do estreito para importar 80 por cento de tudo, inclusive comida. E também usa essa rota pra exportar o petróleo e os petroquímicos que são sua principal fonte de receita externa.
O Irã está isolado financeiramente. Precisa desesperadamente dos dólares que entram com as exportações. Fechar o estreito seria fechar sua própria torneira. Não faz sentido estratégico, econômico ou político.
E mais um detalhe que ninguém comenta: os principais clientes do petróleo que passa por Ormuz são China e Índia — ou seja, aliados do próprio Irã. Já Estados Unidos e Europa importam muito pouco da região. Então, se fechasse, o Irã estaria prejudicando seus amigos, não seus adversários.
O verdadeiro risco não é físico, é psicológico
É aqui que entra a parte mais importante. O que causa problema não é o fechamento em si, mas a percepção de que ele pode acontecer. Isso afeta o preço do seguro dos navios. E se o seguro sobe demais, o frete trava. Os armadores evitam a rota. E isso, por si só, já cria uma escassez momentânea, mesmo que fisicamente tudo continue funcionando.
Eu vivi isso de perto. Trabalhei mais de 10 anos com navio, exportação, importação, seguro. Quando você está no meio de um transit time de 30 ou 45 dias e muda o risco da rota, a seguradora pode simplesmente falar que não cobre mais. E se não cobre, o navio não entra. Dá meia-volta. A operação trava.
E veja, isso não precisa de guerra declarada. Basta ruído, ameaça, ou um tweet mal interpretado. Os preços das apólices disparam e isso já basta pra mexer com toda a cadeia de suprimentos.
Tem também os riscos indiretos
Mesmo que o estreito não seja fechado, podem acontecer outras coisas. Ataques pontuais, sabotagens, interferência em sinais de navegação, drones sobrevoando. Isso já é suficiente pra causar derramamento de petróleo ou atrasos logísticos. E às vezes um acidente desse tipo é pior do que uma decisão oficial.
O ponto é: não precisa de uma guerra declarada pra gerar volatilidade. A incerteza já é suficiente pra desorganizar tudo. E o mercado reage a isso.
A economia global continua fraca
Agora vamos falar do petróleo em si. Teve sim uma alta recente. O WTI foi pra casa dos 73 dólares. Mas se você tirar o zoom, vai ver que a tendência desde 2022 ainda é de queda. O problema do petróleo não está do lado da oferta. Está do lado da demanda.
O mundo está crescendo menos. A atividade industrial está fraca. Então mesmo com conflitos, tarifas e instabilidade, o petróleo não consegue sustentar uma alta prolongada. A economia simplesmente não está puxando.
Conclusão: o problema não é Ormuz — é o ambiente global
O que você precisa entender é que 2025 está sendo um dos anos mais difíceis de ler. Você tem conflitos que pressionam preços no curto prazo, mas ao mesmo tempo uma economia global desacelerando, que puxa os preços pra baixo. Isso confunde o mercado. Confunde o Fed. E cria um ambiente perfeito pra volatilidade.
O Estreito de Ormuz é um símbolo disso tudo. Um elemento que todo mundo usa pra justificar medo, mas que, na prática, é só mais uma peça do quebra-cabeça. Os riscos reais estão espalhados em várias direções. E por isso, você precisa ter visão macro.
Se quiser entender melhor como tudo isso se conecta com o sistema eurodólar, com o funcionamento da liquidez global e o que realmente move os preços, te convido a acompanhar meu Substack. Eu publico artigos, análises e até minha própria alocação de portfólio. Tudo explicado com calma, com profundidade e sem enrolação.
Porque no fim das contas, o que move os mercados não é o que acontece. É o que as pessoas acham que vai acontecer. E entender essa diferença pode mudar completamente a forma como você investe.