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[free] 456 - Trump AMEAÇA Jerome POWELL via CARTA à MÃO

Trump e sua equipe aumentam a pressão em cima do Jerome Powell para cortar juros para 1%. O que isso acarreta na liquidez mundial?

Donald Trump resolveu transformar sua insatisfação com Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, em algo mais explícito do que nunca: uma carta escrita à mão exigindo cortes imediatos nos juros. O gesto teatral viralizou nas redes sociais e levantou uma série de questionamentos profundos sobre a política monetária dos Estados Unidos, suas implicações macroeconômicas e o papel do Fed no atual cenário político e financeiro.

O episódio de hoje mergulha nesse embate — que é muito mais do que uma rixa pessoal. Ele simboliza o confronto entre duas visões opostas de como estimular a economia: uma centrada no corte de juros como alívio populista e outra que reconhece que os juros altos, paradoxalmente, têm funcionado como estímulo nos últimos anos.


Contexto: A paralisia do Fed e a carta de Trump

Após uma trajetória de elevações de juros iniciada em 2022, o Fed realizou alguns cortes em 2024 — mas desde então, congelou suas ações. Enquanto isso, outros bancos centrais do mundo já estão cortando agressivamente, como a Suíça, que retornou a juros zero. A crítica de Trump é simples e direta: os EUA estão pagando taxas semelhantes às de países emergentes como Camarões ou Gabão, quando deveriam estar ao lado de Dinamarca ou Japão, com juros em torno de 1% ou menos.

A carta escrita de próprio punho diz tudo: “Jerome, você está sempre atrasado. Reduza os juros agora. Centenas de bilhões de dólares estão sendo perdidos. Não temos inflação. Assinado, Trump.”

É um ataque frontal, com nome e sobrenome, e que cria uma nova camada de tensão entre o poder executivo e o banco central — algo que, historicamente, os mercados enxergam com cautela.


Por que Powell resiste aos cortes? E por que isso importa tanto

Jerome Powell está entre dois fogos. Por um lado, há pressão política para cortar os juros e aliviar o custo da dívida federal, que está em níveis historicamente elevados. Por outro, há o receio de que cortes prematuros reacendam a inflação e desancorem expectativas. Mais ainda: há argumentos técnicos que sustentam que juros altos, longe de serem um freio, têm sido um dos motores da economia americana nos últimos dois anos.

Sob a lente da Teoria Monetária Moderna (MMT), como defendida por Warren Mosler, o gasto com juros virou uma das principais fontes de estímulo fiscal. Com mais de US$ 1 trilhão ao ano em pagamentos de juros, esse dinheiro cai diretamente na economia real, elevando o consumo e sustentando os ativos financeiros.

Se os juros caem, esse fluxo diminui. A mágica que vinha impulsionando o crescimento começa a perder força.


A visão de Jeff Snider e os efeitos colaterais de juros baixos

Jeff Snider há tempos argumenta que juros altos são, na prática, expansionistas — ao contrário do senso comum. Eles transferem renda para quem detém ativos, elevam o poder de consumo das classes mais ricas e impulsionam os mercados financeiros.

Baixar juros, por outro lado, só funciona se houver crédito — e os americanos hoje estão mais endividados do que nunca. Não adianta juros baixos se as famílias não conseguem financiar uma casa, comprar um carro ou pagar as dívidas que já têm. Cortes de juros sem crédito disponível podem ser, na prática, um sinal de colapso, não de alívio.


A guerra imobiliária: Powell acusado de congelar o sonho americano

Um dos campos de batalha mais evidentes dessa disputa é o mercado imobiliário. A crítica mais dura contra Powell é que seus juros altos dobraram o custo dos financiamentos, congelando o setor. Com hipotecas a 7%, ninguém quer vender imóveis financiados a 3%. O resultado é um mercado paralisado, excesso de estoque de novas construções e demanda fraca — especialmente em estados como a Flórida.

William Pultier, responsável por programas de financiamento habitacional, juntou-se ao coro de críticas, dizendo que Powell está criando um “masterclass em má gestão econômica”. Os efeitos colaterais já apareceram no colapso de bancos regionais e na deterioração da confiança em toda a cadeia imobiliária.


E se o Fed ceder? Os riscos da reversão

Caso Powell ceda à pressão e inicie uma nova rodada de cortes, os efeitos não são tão previsíveis quanto parecem. Reduzir juros pode derrubar a principal fonte de estímulo que vinha sustentando os mercados — os próprios pagamentos de juros da dívida federal.

Além disso, cortes agressivos eliminam o atrativo atual dos títulos do Tesouro, que estão sendo comprados em larga escala por oferecerem colateral barato e juros reais positivos. Isso afeta o fluxo de liquidez global, o mercado de repo e toda a estrutura que sustenta o sistema monetário dos EUA.

Ou seja, um corte pode parecer bom no curto prazo, mas eliminar o incentivo que vinha sustentando a economia, gerando consequências adversas para a liquidez global.


Conclusão: Pressão política, juros e o futuro da liquidez

A carta de Trump é só a ponta do iceberg. Ela simboliza uma luta por poder sobre os fluxos de liquidez que moldam o mercado americano e, por consequência, o sistema financeiro global.

Powell, com mandato até maio de 2026, segue resistindo, mas cada movimento seu está sendo politizado. O risco é que o Fed se torne um alvo eleitoral direto e perca sua independência funcional — o que seria perigoso para os mercados.

Enquanto isso, a liquidez global continua fluindo — mas com riscos crescentes no horizonte. A tensão entre política fiscal, monetária e eleitoral vai escalar nos próximos meses, e é preciso acompanhar atentamente cada passo desse embate.

Afinal, entender essa disputa é mais do que entender política — é antecipar o próximo movimento dos mercados.

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