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[free] - 460 - JAPÃO no Meio de um TSUNAMI de TARIFAS

Uma bomba de tarifas anunciadas por Trump, onde o Japão fica em uma situação bem complicada

As tarifas voltaram com força total. Em pleno 2025, um novo pacote anunciado pelos Estados Unidos reacende as tensões comerciais com dezenas de países ao redor do mundo; da Europa à África, da Ásia à América Latina. Mas entre todos os atingidos, o Japão ocupa um lugar particularmente vulnerável. O país, que por décadas foi considerado um aliado estratégico e comercial dos EUA, agora se vê no centro de uma tempestade perfeita: queda nas exportações, pressão cambial, dificuldade de negociação e uma política monetária em xeque.

Neste artigo, vamos destrinchar por que o Japão está sendo um dos mais afetados pelas novas tarifas americanas, como isso impacta sua economia, e por que tudo isso importa para quem investe em mercados globais, inclusive no Brasil.


Tarifas nos Automóveis: O Golpe na Alma da Economia Japonesa

As exportações japonesas, já pressionadas por uma economia global mais fraca, despencaram 12% somente no mês de maio — a maior queda registrada em anos. Em abril, a queda já havia sido de 4,5%, após a imposição inicial de tarifas de 25% sobre automóveis.

Essa não é uma questão apenas de política externa. Carros japoneses como Toyota, Honda e Lexus são extremamente populares nos Estados Unidos. Com as tarifas, os fabricantes japoneses foram forçados a cortar preços para manter sua competitividade, absorvendo o impacto ao invés de repassar o custo ao consumidor americano. Isso tem pressionado as margens de lucro e criado um ambiente de incerteza para um dos setores mais importantes da economia japonesa.

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Uma Política Externa Desconectada da Realidade

O que agrava a situação do Japão é a falta de coordenação estratégica na negociação com os Estados Unidos. Weston Nakamura, analista especializado no Japão,

destacou como o primeiro-ministro japonês Shigeru Shiba falhou em montar uma equipe técnica capacitada para lidar com as tratativas comerciais. O Japão, que deveria ser um dos primeiros países a negociar exceções ou novos termos, acabou ficando no fim da fila.

O resultado foi a divulgação de uma carta formal enviada por Donald Trump ao governo japonês. Nela, os EUA confirmam que a partir de 1º de agosto de 2025, todos os produtos japoneses serão tarifados em 25%, com a possibilidade de elevação dessa alíquota caso o Japão imponha medidas retaliatórias ou tente burlar as tarifas via países intermediários (o chamado transshipment).

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O tom da carta é claro: se quiser evitar as tarifas, o Japão deve trazer sua produção para dentro dos Estados Unidos. O que antes era uma parceria comercial agora virou um ultimato.


O Yen, os JGBs e o Risco Sistêmico

A fragilidade da posição japonesa também se reflete nos mercados. O iene tem flutuado perto dos 150 por dólar, e os títulos públicos japoneses de 30 anos (JGBs) seguem em tendência de alta nos rendimentos. Isso é especialmente problemático, pois o Banco do Japão já detém mais de 50% de todos os JGBs emitidos. Continuar controlando a curva de juros comprando mais títulos pode destruir a liquidez do mercado e eliminar qualquer possibilidade de price discovery — ou seja, o mercado perde a capacidade de definir preços justos.

Esse tipo de disfunção já preocupa analistas há meses. O Japão está chegando no limite de sua capacidade de manter sua política monetária ultraexpansionista, enquanto lida com os impactos externos de uma guerra comercial.


Por Que Isso Importa Para o Resto do Mundo

Os efeitos dessas tarifas não ficam restritos ao Japão. Como o país é um dos maiores detentores de títulos da dívida americana e tem presença relevante no S&P 500 por meio de investimentos institucionais, qualquer instabilidade japonesa pode afetar diretamente a liquidez global.

Mais do que isso, o cenário atual reforça uma tendência que já vem se consolidando: a desglobalização. As tarifas, antes vistas como instrumento de negociação pontual, estão virando uma política estrutural. O comércio internacional está deixando de ser neutro e cooperativo para se tornar uma arena de disputa entre blocos.

O Brasil, por exemplo, pode sentir os efeitos via câmbio, investimentos, e mudanças nos fluxos de capital global. Se o Japão for obrigado a repatriar recursos ou reduzir sua exposição a mercados externos, isso pode gerar volatilidade em ativos brasileiros.


O Fim da Era das Tarifas Temporárias

A carta de Trump ao Japão mostra que as tarifas não são mais apenas uma ferramenta de pressão momentânea, mas um instrumento de política econômica com objetivos de longo prazo. A proposta de isenção para empresas que fabricarem diretamente em solo americano reforça a ideia de reindustrialização forçada e controle sobre as cadeias de suprimento.

Em outras palavras, o mundo caminha para um cenário onde relações comerciais serão pautadas por acordos bilaterais, localização da produção e alinhamento geopolítico, e não mais por eficiência global ou abertura de mercado.


Conclusão: Um Novo Capítulo da Era Pós-Globalização

O Japão, outrora símbolo de eficiência industrial e parceria estratégica com os Estados Unidos, se vê agora num dilema. Ceder à pressão americana ou resistir com risco de sofrer consequências severas.

Para os investidores, esse episódio é mais um sinal de que a lógica do comércio e da liquidez internacional está mudando. O que antes era um sistema automatizado, previsível e globalizado agora depende cada vez mais de decisões políticas, retaliações e acordos de bastidores.

É o começo de uma nova era. E o Japão está bem no meio dela.

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