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[free] - 465 - Juros EXPLODIRAM no JAPÃO. Colapso Começou?

Juros de 30 e 40 anos subiram de forma acelerada. Entenda o quadro complexo de contracorrentes no Japão e a perda de confiança no Governo

O Japão, por décadas conhecido por juros zero e uma economia marcada por deflação crônica, agora está no centro de uma nova preocupação global. Os rendimentos dos títulos de longo prazo estão disparando, principalmente os JGBs de 30 e 40 anos. Diante disso, a pergunta que se impõe é: o que exatamente está acontecendo com a economia japonesa? Estaríamos diante do início de uma ruptura sistêmica?

É importante lembrar que o Japão não é um país qualquer no contexto monetário global. Ele foi o pioneiro no controle da curva de juros, em adotar taxas negativas e transformar seu banco central em um dos maiores compradores de dívida soberana do planeta. Isso criou um modelo baseado em juros ultra baixos, alto endividamento e uma moeda estruturalmente fraca. Esse ambiente deu origem ao famoso carry trade, onde investidores pegam dinheiro barato em ienes para investir em ativos mais rentáveis lá fora, especialmente em dólares.

O problema é que esse modelo parece estar começando a se desgastar.

A inflação voltou, os salários no Japão começaram a subir e, ao contrário do que se pensava, a normalização monetária parece estar em andamento. A curva de juros japonesa está sinalizando que o mercado já não tem tanta certeza da capacidade do governo de manter sua dívida sob controle. E quando os títulos de 30 e 40 anos disparam, o sinal é claro: há uma crescente desconfiança quanto ao futuro fiscal e à estabilidade monetária do país.

Esse movimento afeta não só o Japão, mas também o sistema eurodólar — a malha de dólares que circula fora dos Estados Unidos e conecta as economias globais. O Japão é um player central nisso. Ele fornece colateral via seus próprios títulos públicos para alimentar operações de crédito que vão, muitas vezes, para a China e para outros países asiáticos. Qualquer fragilidade no modelo japonês afeta o acesso a dólares e o custo de financiamento global.

E tem mais. À medida que os juros japoneses sobem, o carry trade começa a perder força. Isso obriga uma repatriação de capitais, o famoso unwind, que pode acelerar uma correção de liquidez em várias partes do mundo. Mesmo que os juros subam apenas alguns pontos, o efeito se multiplica devido à alavancagem massiva usada nesses trades. Ou seja, não é o tamanho da taxa, mas o tamanho do dinheiro em cima dela que faz o estrago.

Do outro lado da equação, a inflação japonesa já começa a mostrar sinais de arrefecimento. Dados recentes indicam uma desaceleração nos preços, o que poderia indicar que o Japão ainda segue preso à sua tendência deflacionária de longo prazo.

Parte da inflação recente foi pontual, como no caso do arroz, afetado por problemas de colheita. Mas ainda assim, o Banco do Japão se vê diante de um dilema clássico: proteger a moeda ou proteger a dívida. Fazer as duas coisas ao mesmo tempo, neste momento, parece impossível.

E o que o Banco do Japão pode fazer? Voltar a comprar títulos e retomar o controle da curva de juros. Mas isso tem um custo: comprar ainda mais dívida significa aumentar sua participação nesse mercado, que já está na casa dos 50 a 60%. Se passar disso, o mercado começa a perder liquidez real, a confiança evapora, os juros sobem ainda mais e você entra num ciclo vicioso.

Mais compra de títulos significa mais emissão de ienes, o que deprecia a moeda, aumenta a inflação e exige juros ainda maiores. Um labirinto quase sem saída.

No meio disso tudo, ainda temos as eleições da upper house no Japão, marcadas para o dia 20. Dependendo do resultado, a pressão sobre o governo pode se intensificar. A curva de juros já está precificando essa incerteza política. Não é apenas uma questão de economia. É uma crise de credibilidade que afeta a política fiscal, monetária e externa do Japão.

Vale lembrar que, apesar da narrativa recorrente de que o Japão “parou no tempo” e virou vassalo dos Estados Unidos, o país segue sendo uma peça essencial do sistema monetário global. Ele é o elo entre a China e o sistema eurodólar via Hong Kong, funcionando como ponte de acesso ao crédito internacional para uma economia que ainda tem controles de capital internos muito rígidos. A saúde financeira do Japão importa — e muito — para Washington, Pequim e para todos os mercados que dependem de liquidez em dólar.

Portanto, falar que o Japão está em colapso iminente talvez seja um exagero, mas ignorar a relevância do que está acontecendo é um erro. O sistema está tensionado, e os próximos passos do Banco do Japão serão decisivos. Qualquer erro de cálculo pode desencadear uma nova rodada de volatilidade global. E o mundo já está sensível o bastante.

A ver as cenas dos próximos capítulos. E dessa vez, o enredo japonês interessa a todos nós.

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