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[free] - 468 - TRUMP: Guerra COMERCIAL ou MONETÁRIA?

A novela da guerra comercial entre Trump e Lula pode criar capítulos que muitos não esperam
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A tensão entre Estados Unidos e Brasil escalou de maneira inédita em 2025. O pano de fundo é uma investigação da famosa “Section 301” do Departamento de Comércio dos EUA, alegando que o Brasil adota práticas desleais, especialmente em relação à proteção de dados.

Mas o que realmente chamou atenção foi a citação direta ao Pix — e a reação veio com força. De um lado, memes e ironias tomaram as redes. De outro, uma indignação quase nacionalista: “o Trump quer acabar com o Pix”. A verdade, no entanto, é que esse episódio é só a superfície de algo muito mais profundo.

Por trás do ruído midiático, existe um jogo muito mais sério sendo jogado. E ele é monetário, não apenas comercial. O que está em disputa não é só o direito de exportar produtos ou armazenar dados, mas o acesso a algo fundamental: o sistema eurodólar. E é isso que muitos ainda não entenderam. Quem controla o acesso à liquidez em dólar, especialmente nos momentos de crise, controla a capacidade dos países de sobreviver financeiramente. O Brasil, como todos os países fora dos EUA, está inserido no sistema eurodólar — um sistema onde você não imprime o dinheiro que precisa para pagar suas dívidas. Você depende dele.

O sistema eurodólar e a arma que ninguém discute: o Fed Swap

Desde Bretton Woods, todas as moedas flutuam em torno do dólar. O valor de qualquer moeda nacional, inclusive o real, só pode ser entendido pela sua equivalência em dólares. E o mecanismo que garante que essa engrenagem continue girando se chama Central Bank Liquidity Swap — o famoso Fed Swap.

O Fed Swap é um instrumento do Federal Reserve que permite oferecer liquidez em dólares para bancos centrais estrangeiros, trocando temporariamente moedas locais por dólares. É como se o Fed dissesse: “te empresto dólares por um tempo, me dá a sua moeda em garantia, e depois a gente troca de volta”. Isso garante que as transações comerciais e financeiras não travem quando há uma crise de liquidez. Em 2008 e 2020, foi exatamente esse instrumento que evitou o colapso de diversos sistemas periféricos.

Mas essa linha de vida não é automática. Ela é política. E é aí que entra Trump. Ele já deixou claro que quer substituir Jerome Powell à frente do Fed para ter maior controle sobre esse tipo de decisão. Porque quem comanda o Fed, no fim das contas, decide quem merece ou não acesso à liquidez quando o mundo começa a faltar dólares. Isso pode virar uma arma geopolítica.

Hoje, o Brasil tem reservas cambiais abundantes. Mas o problema não é agora — o problema é quando o ciclo virar. Quando o dólar voltar a se valorizar globalmente, quando os mercados saírem do bull market atual, quando a euforia der lugar à contração. É nesse momento que a existência de uma linha de swap pode significar a diferença entre estabilidade e colapso.

Soberania, riscos geopolíticos e a fragilidade estrutural do real

O Brasil pode, teoricamente, recorrer a seus parceiros. Pode buscar apoio na China, fortalecer acordos com a União Europeia, diversificar suas reservas e tentar escapar da dependência do dólar. Mas o sistema internacional não funciona assim. Os EUA são o parceiro comercial número um ou dois da maioria dos países do mundo. Se um acordo for interpretado como uma tentativa de “bypass” pelas regras americanas, Trump pode retaliar — inclusive ameaçando retirar o Fed Swap de aliados do Brasil. O jogo é duro, e não se limita às fronteiras nacionais.

Sem acesso pleno ao sistema, a percepção de risco sobre o Brasil aumenta. E com isso, o capital de longo prazo hesita. Investimentos em infraestrutura, parcerias estratégicas, fluxos financeiros mais robustos começam a ser reavaliados. O resultado? Uma pressão sobre o real, um aumento na volatilidade cambial, e uma elevação da taxa de risco do país como um todo.

Além disso, vale lembrar que o sistema eurodólar é muito maior do que o sistema doméstico americano. A maior parte dos dólares em circulação no mundo está fora dos Estados Unidos. E a maior parte das dívidas também. O mundo está endividado… em dólares. Esse sistema é alavancado por natureza. Ele existe porque foi construído com base em empréstimos — e todo empréstimo precisa ser quitado com principal e juros. Não é uma questão de calotear os EUA. É uma questão de pagar outros países, outras instituições, dentro do mesmo sistema.

No fim das contas, essa “guerra comercial” pode muito bem ser a fachada de uma guerra monetária silenciosa — onde o acesso à moeda dominante é usado como ferramenta de coerção ou barganha. E essa é a verdadeira ameaça. Não ao Pix. Não ao meme. Mas à estabilidade financeira de longo prazo de economias que ainda dependem, profundamente, da engrenagem global que gira em dólar.

Se você quer proteger seu portfólio, entender a dinâmica do Fed Swap e do eurodólar não é opcional. É essencial. Porque, no fim, quem controla a liquidez… controla o jogo.

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